quarta-feira, 12 de agosto de 2009

En Sônia

..coisas tantas zumbeavam..
Em tempo de forçado repouso, Sônia dormia muito e pouco.
O corpo quente não esquentava o estômago que sismava em pensar questões e pendências que as pernas não conseguiam sustentar naquele momento.
Quatro horas acordada vividos intensamente: copos d'água, termômetro, comprimidos e amigos ocupados.
O telefone nunca toca - a campanhia sim - é o gás..
Se o tempo passar mais rápido, talvez leve a dor de cabeça. (!) Grande idéia: o remédio da noite de dia..
Soniô um amontoado entre algumas violentas com aleatórias pessoas quando nariz sangrando em diálogos francos sendo situações inusitadas como lugares comuns - toca o despertador.
.
.coração - desliga - despertador - partido (pra quê despertador) volta pra dentro dos músculos das costas, dos olhos... dentro, ta quente, ta frio, ta quente, marretinha, ta frio, ta quente? ta frio, ta frio, marretinha da construção, janela, copo d'água, telefone, nada. Água, garganta, cobertor, nada, nada, ninguém, triplo apito do termômetro, será?, nada, o que?, alguém? - 37.8ºC.
Vira pro outro lado. fronha rosa... os olhos não abrem, cabeça começa a ver, pensa na luz, no ensaio, nos cartazes, na febre, no colóquio, na tese, na viagem, no telefone, nada. Pensa na febre, no remédio, no médico, no fim de semana, na segunda, nada? Pensa na serra, na cachoeira, na febre, no banco da porta, na serra, no telefone, ... vira o travesseiro de lado.
.
..ya en Sônia, sueño no hay..

in-somnia..

3:35 o jornal que não será totalmente lido passa por dentro da grade e cai no chão da garagem.

4:59, muda-se de posição na cadeira..

5:01 o portão barulhento do vizinho abre, não sabe se chega ou se sai.

5:02 começa a escrever, era o que tinha vindo fazer..

...

Tênue ventre que me secreta,
Leve meus segredos de dentro
para o útero da terra
Cultive meus enganos,
meus planos insanos,
que floresçam na próxima primavera
E que sonhos não escorram em vão
na falta do encontro propício
que se renove a beleza da vida
do ciclo,
do cíclico do século
do tempo que virá e trará
os anseios do ventre que venta
e esvazia e sopra e sente...