segunda-feira, 7 de março de 2011

Bolo árabe

Há sempre a tentativa de transformar um acontecimento grandioso em receita de bolo, como se fosse apenas fruto de uma mistura de alguns fatores em quantidade logicamente definidas e os ingredientes de uma revolução não fossem essa mesma indignação e impotência que sentimos, meros cidadãos no mundo.
A língua da vizinha destila o veneno sobre números de protestantes feridos e mortos, dados catados da história e análises de paletós. Palavras estupidamente selecionadas deturpam o momento histórico, desviam a atenção para a morte, a desordem, o medo, para a demagogia política que analisa, mas não se emociona com as milhares de pessoas indignadas na rua gritando por dignidade e justiça.
Algo acontece ali do lado, algo que nos diz respeito a todos. Alguém se levantou de manhã para mudar a ordem das coisas e na rua, encontrou outros, como ele, não dispostos a conseguir migalhas. E os descontentes eram muitos, eram milhares de cidadãos conscientes de serem donos de sua própria história agindo imediatamente para mudá-la. Um bolo de gente que pulsava junto e se fortalescia com o grito.
A eles pertencem definir as mudanças que farão, os temperos, a temperatura, a eles deve agradar o paladar.
Aos humanos do mundo inteiro, que sentimos a mesma dor no estômago, um sopro de esperança no coração fatigado: é o bolo árabe alimentando nossa fome. Seguimos famintos, mas não iguais.

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